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terça-feira, 20 de setembro de 2011

• Diário de uma Veterinária

• Diário de uma Veterinária



Entendendo o comportamento do gato


Na era digital nós conseguimos nos comunicar com indivíduos nas mais remotas áreas do mundo, com diferentes línguas e dialetos.

Inventaram-se outras formas de comunicação como o braile e a libra para falar e se fazer compreender. Mesmo com esse desenvolvimento e novos recursos, ainda estamos “comendo bola” quando o assunto é entender a mensagem do gato que mora na nossa casa.

A maioria das queixas de problemas comportamentais é consequência de restrições da vida doméstica, impostas a uma espécie que não é verdadeiramente domesticada e também de uma má interpretação do proprietário do comportamento felino.

É importante compreender o comportamento felino para saber lidar com ele, seja na criação ou no trabalho do veterinário.

Na vida selvagem, os gatos vivem em grupos familiares e têm muito pouco contato com gatos estranhos. Eles caçam sozinhos e quando estão caçando, eles objetivam minimizar ao máximo qualquer interação com outro felino. Por esse motivo, a maioria dos sinais comportamentais do gato tem a intenção de aumentar a distância entre os indivíduos e aqueles sinais que encorajam a interação são reservados aos membros do grupo.

A sociedade felina é matriarcal, com fêmeas parentes mais velhas cuidando das crias umas das outras e defendendo os indivíduos do grupo. Sem a presença de uma rede hierárquica, como em casos de residências com vários gatos não parentes, a estabilidade do grupo depende dos comportamentos cooperativos, como lambedura mútua e o ato de se esfregarem.

Lambedura mútua:
Geralmente é vista em gatos que estão descansando juntos e parte dos dois indivíduos. Além de promover o fortalecimento de laços entre os membros do grupo, esse comportamento também é visto entre indivíduos que tiveram um desentendimento recente, como se estivessem fazendo as pazes.

Esfregando um no outro:
Esse comportamento visa misturar o cheiro e a troca carinho (sinal tátil). Ele parte de um indivíduo (geralmente do mais fraco) e pode demonstrar um reconhecimento da posição hierárquica do outro, como:

- Gatinhos se esfregam em todo mundo, com menor freqüência em machos adultos.
- Jovens se esfregam em fêmeas adultas.
- Fêmeas adultas se esfregam entre si e, ocasionalmente, em machos adultos.

O gato aproxima-se com o rabo levantado na intenção de se esfregar e o que vai acontecer a partir daí depende do gato receptor. Se o mesmo levantar o rabo, está demonstrando que permite o comportamento e então eles começam a se esfregar. Se o receptor não levantar a cauda, pode ainda permitir o comportamento, mas a iniciativa de aproximação deve ser do outro gato.

Esse comportamento é o mais visto entre gatos e humanos. Em caso de humanos, esse comportamento intenciona misturar os cheiros, transferindo para o dono o seu cheiro e assim permitindo o reconhecimento daquele indivíduo como membro do grupo social. Esse comportamento também é reconhecido pela intenção do gato em uma resposta do dono, como ser alimentado naquele instante.



CANAIS DE COMUNICAÇÃO:

É importante compreender os canais de comunicação do gato, que são:

- Comunicação olfatória (esfregando odores de glândulas, arranhando, marcando com urina, defecando)
- Comunicação Vocal
- Linguagem corporal (expressões faciais, posições do rabo)

Na comunicação olfatória o gato tem a intenção de se comunicar com outros indivíduos sem necessariamente ter contato com eles. Nesse sentido, o gato é altamente capacitado a enviar e receber mensagens por cheiros devido à presença de diversas glândulas pelo corpo e através do uso do órgão vomeronasal que vai interpretar esses odores.

Esfregando odores de glândulas e arranhando locais:
As maiores áreas de localização das glândulas produtoras de odores em gatos são a face, os flancos e a base da cauda, porém alguns gatos também apresentam glândulas nas palmas.

Os odores produzidos são únicos e permitem que um gato identifique outro do seu grupo social ou não.

Os gatos utilizam desses odores para marcarem seus territórios, como em cercas, móveis e até sacolas e novos objetos trazidos para casa. Os gatos também se esfregam na sola dos sapatos dos donos quando esses retornam para casa, devido à grande quantidade de odores que este trouxe da rua. A produção e o depósito desses odores estão diretamente relacionados com a socialização de uma interação social e com a familiarização com o ambiente.

Comercialmente são produzidos análogos de frações dos ferormônios F3 (Feliway) e F4 (Felifriend) e utilizados na prevenção e tratamento de certos problemas comportamentais.

Quando o gato arranha, ele está expressando um comportamento tanto funcional quanto de marcação. Nesse comportamento o gato está alongando os músculos e tendões para a caça, depositando odores que são produzidos nas suas palmas e deixando um sinal visual de sua presença, que é a arranhadura vertical.

Marcação com urina:
O uso da urina como marcador é comum na espécie felina e esse comportamento geralmente é realizado com o animal em pé. O nome “spraying” vem da posição característica do gato que se posiciona de costas para a área vertical a ser marcada e lança jatos de urina na horizontal.

Alguns gatos podem realizar esse comportamento em uma posição agachada, mas, independente da posição adotada, todo gato em algum momento da sua vida utiliza da marcação por urina e a maioria desses o faz de forma regular em ambientes fora de casa.

Não é um comportamento exclusivo de gatos machos e gatos de ambos os sexos ainda podem expressar depois de castrados. Um dos propósitos da marcação com urina no ambiente externo é de elaborar um sistema que assegura que o território de caça não esteja superlotado. Esse comportamento vai minimizar o risco do contato e confronto com um indivíduo desconhecido.

A marcação por urina também objetiva o sinal de disponibilidade para o acasalamento. Nesses casos a urina das fêmeas no cio apresenta um odor especial que informa o status sexual e nível de receptividade ao macho. Quando os gatos são castrados, esse comportamento (com esse objetivo) geralmente não acontece mais. Para evitar o surgimento de problemas comportamentais associados com essa forma de comunicação, machos e fêmeas devem ser castrados antes da puberdade.

Quando esse comportamento é observado dentro de casa, pode estar associado a uma tensão de grande estresse sofrido pelo gato (p. ex. a ameaça de outros gatos da vizinhança) como uma forma de comunicação quando outras formas falharam ou um comportamento aprendido para ganhar a atenção do dono.

Defecando como forma de comunicação:
Como a marcação pela urina, os gatos podem se comunicar com outros gatos usando suas fezes. Nesse sentido, eles as depositam deliberadamente em locais com o objetivo de passar uma mensagem. Esse comportamento geralmente é visto nas margens do território. Quando o gato defeca com esse objetivo, as fezes estarão aparentes.

É isso aí gente... Quando se trata de comportamento felino, há muito que se falar.

No próximo artigo falaremos um pouco mais sobre o comportamento felino, como a vocalização e posições do corpo e cabeça, para então podermos abordar os principais problemas comportamentais, como evitar e como tratar.

Um abraço a todos.

Alice Ribeiro

http://www.tudogato.com/

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